quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Por que o estudo das religiões - uma breve análise

A ideia do presente artigo é realizar uma análise do capítulo “Why study religions?” produzida por John R. Hinnels, professor de estudos comparados de religião da Liverpool Hope University, e demonstrar como o entendimento da religião pode facilitar o as relações de indivíduos de diferentes crenças, assim como perceber, de forma breve, as influencias que a religião pode ter nos campos da política e da cultura.
John R. Hinnels inicia discutindo a religião dentro de uma perspectiva marcada pela idéia de perigo, mostrando que várias pessoas foram torturadas e/ou mortas devido aos apelos religiosos. Pode-se perceber diversos episódios onde a religião teve o papel de perseguição, tortura e até mortes em massa.
A religião, por outro lado, pode ser vista, nas esferas individuais e coletivas, como uma forma de apoio ou de ajuda. Seria a religião desta forma um instrumento para aliviar as dores mundanas e/ou espirituais dos indivíduos que a elas seguem.
Um terceiro ponto exposto pelo autor está inserido na esfera pessoal marcado por dois possíveis sentimentos – a. a religião vista como um fenômeno útil, positivo na vida da pessoa; b. a religião vista como um fenômeno que levaria a pessoa a se torturar (tanto fisicamente como mentalmente) quando tivesse sentimentos de culpa ou vergonha causados pela sensação de não atingir os princípios de uma determinada crença.
Após apresentar três perspectivas, Hinnels defende o estudo das religiões questionando se é possível entender determinadas culturas ou sociedades fora da esfera da religião, questionamento este que trás a tona necessidade de definir a religião, ponto esse que o autor coloca cerceado por um interminável debate, haja vista diversas vertentes que buscam definir esse campo.
Dentro do campo das definições, há teóricos que defendem a substituição da palavra religião pela palavra cultura, expondo que a idéia da palavra não faz alusão à objeto nenhum, ao passo que a religião, como prática, seria uma das estruturas internas da cultura. Outra vertente defende a religião como sendo polissêmica, onde Leandro Karnal se apresenta como um dos defensores dessa hipótese .
Saindo do campo da discussão do objeto, há a necessidade de entender o papel do religioso dentro do estudo das religiões. Inicialmente deve-se diferenciar o indivíduo religioso do indivíduo que estuda religiões. O religioso é membro de um grupo religioso, ao passo que o estudioso de religião não necessariamente crê em uma doutrina. Dito isto, pode-se entender o cunho da expressão tão comumente usada nos dias atuais – pensamento religioso – onde o indivíduo acredita que suas ações ou práticas estão de acordo com ideais de uma determinada doutrina. Não somente indivíduos podem ser religiosos, mas também organizações e instituições, dado o caráter defensor de uma crença específica.
Desta forma, a religião poderia ser entendida como um conjunto de práticas e idéias fundadas em uma crença defendida por um indivíduo ou uma coletividade.
Tais práticas religiosas estão fundamentadas na idéia de polissemia que a religião, para alguns, pode apresentar. Tal conceito ou característica produzido através de uma visão baseada na hermenêutica defende que as religiões podem ser aquilo que as pessoas entendem. Desta forma Hinnels expõe que as pessoas são aquilo que elas acreditam ser, o que poderia ser útil no entendimento do fundamentalismo religioso. Assim sendo, tem-se “[…]an act is a religious act when the person involved believes it to be associated with their religion. A religious thought is a thought which the thinker thinks in Zoroastrian, Christian[…]” (HINNELS, 2005: 07)
Com relação às práticas, a religião pode ser de forma vista isolada ou geralmente associada a outras dimensões. Uma das esferas que está quase sempre atrelada ao discurso religioso é o campo da política.
A história pode nos mostrar a importância da religião em momentos de fundamentação do pensamento político, ao passo que a própria política pode ser também um instrumento de concretização ou fortalecimento da própria crença. Determinados atos políticos praticados por religioso poderiam não ser entendidos ou enquadrado no campo do real, mas sim no campo da religião. Neste cenário, deve-se voltar ao entendimento de que as práticas ocorrem através da legitimação do pensamento religioso. Neste processo, a religião legitima o ato, e este pode ter uma conseqüência política. Ao legitimar o ato, o religioso não se sente culpado pois acredita que tal prática esta fundada na verdade da sua crença, não podendo ser questionada.
No campo da cultura a religião também apresenta as suas influencias. Para Hinnels, ao ter no mesmo plano a cultura e religião, o que se enxerga é um cruzamento entre as duas esferas, onde uma esfera complementa a outra.
Tendo como breve entendimento de cultura um conjunto de idéias e valores, e de religião um conjunto de práticas baseadas em uma crença, o questionamento de qual esfera influenciou a outra não se mostra de grande importância, ao entender que ambas se influenciam.
Para concluir este artigo deve-se ressaltar a importância do debate acerca do preconceito religioso. Hinnels defende que preconceito religioso é um dos fenômenos que permeia o mundo atual, devendo receber grande importância o estudo comparativo das religiões, possibilitando um melhor conhecimento das religiões, possivelmente reduzindo o preconceito.
Ao não conhecer um determinado fenômeno, há de se criar sentimento de medo, e é este sentimento de medo que alimentaria o preconceito, pois como o autor defende, “[...]If someone can develop an empathetic understanding of one another culture, the result will be that they are more ready to empathize with other cultures as well[...]” (HINNELS, 2005: 9).
CONCLUSÃO
Ao debater o estudo da religião pode-se entender que a mesma afeta as atividades de indivíduos e coletividades, influenciando dois campos de extrema importância para as sociedades humanas – a política e a cultura, e um melhor entendimento das doutrinas pode ajudar o debate acerca de questões como o fundamentalismo e o preconceito religioso.

BIBLIOGRAFIA
HINNELS, John. R. Why study religions In HINNELS, John R. The Routledge companion to the study of religion. New York: Routledge, 2005

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